Faça-se justiça

Depois de uma loooonga pausa, estamos de volta. E marcamos o nosso regresso com a incontornável Punisher da Netflix.

Como fãs incondicionais de Frank Castle que somos, a estreia da nova empreitada da Netflix no universo Marvel era aguardada há muito. Depois de vermos o que foi feito com Jessica Jones e Luke Cage, a introdução da personagem na segunda temporada de Daredevil serviu para nos deixar ainda mais curiosos. A caminhada de Castle pelos ecrãs tem sido muito pouco consensual; em ’89 Dolph Lundgren encarregou-se da estreia modesta da personagem no Cinema; em 2004 foi a vez de Thomas Jane tentar a sorte; quatro anos depois, Ray Stevenson deu vida à personagem em Punisher: War Zone, que mostrava fortes influências de Punisher Max; em 2012 Jane volta à carga na curta Dirty Laundry.

Desta feita, cai sobre os ombros de Jon Bernthal a grande responsabilidade de encarnar o homem da caveira branca ao peito e o papel assenta-lhe como uma luva. À excepção de alguns ligeiros momentos de overacting, Bernthal desempenha Castle na perfeição e depressa nos faz esquecer os seus três antecessores. Além dele, destacamos Amber Rose Revah, no papel de Dinah Madani, Ben Barnes, que desempenha o ex-colega de Frank, Billy Russo e que alguns conhecem como Jigsaw, Paul Sculze no papel de Rawlins, e, claro, Ebon Moss-Bachrach, que dá vida a David Lieberman, um pouco mais novo que o habitual e que os fãs de Punisher estão habituados a tratar por Micro.

O guião mantém, em traços gerais, a história de origem de Punisher mas acrescenta-lhe alguns elementos novos que irão alimentar partes da narrativa mais adaptada ao formato da Netflix. Gostámos particularmente que a história não fosse completamente revelada de uma assentada só e, em vez disso, nos fossem dando elementos novos para construirmos o puzzle. O mesmo acontece com o misterioso passado de Castle nas Forças Armadas americanas.

Steve Lightfoot, responsável pela adaptação da série, actualiza a personagem e transporta-a para o século XXI, substituindo o Vietnam por conflitos bem mais actuais e os tradicionais criminosos por adversários com um poderio bem mais considerável. O grupo de argumentistas, no qual se insere John Romita, consegue assim fornecer a Castle um alvo bastante maior que o habitual e que o vai manter ocupado durante toda a temporada. Mesmo assim, os fãs mais antigos do Justiceiro podem ficar descansados já que os tradicionais easter eggs estão lá para quem os quiser ver.

No primeiro episódio e à excepção da cena de introdução, somos brindados com um Frank mais contido que aquele ao que nos habituámos na B.D. Claro está que, tratando-se de uma série centrada na personagem do Punisher, essa contenção vai sempre dar inevitavelmente lugar a uma explosão de toda a raiva acumulada, casada aqui com a rouquidão de Tom Waits de uma forma quase poética, não fosse aquilo que se passa entretanto no ecrã. O final do primeiro episódio vai acender o rastilho para os restantes doze.

Como seria de esperar, no meio de tantas balas disparadas, algumas teriam que falhar o alvo. Apesar de nunca (mas nunca, nuca mesmo) chegar sequer perto do marasmo de Iron Fist, ficamos com a impressão que a temporada poderia perder facilmente um ou dois episódios se a produção quisesse. Graças a isso e a algum excesso de informação desnecessária, a certa altura a história perde o ritmo e torna-se algo atabalhoada. Com a diversidade de alvos a abater, até nós por vezes nos sentimos um pouco perdidos sem saber quem eliminar primeiro; devido a isso, perdoamos alguma falta de eficácia de Frank nesse campo.

Se por um lado esperamos sempre que a brigada do politicamente correcto se insurja acerca da violência da série, os menos falsos moralistas talvez se possam queixar exactamente do contrário. Tal como acontece com Frank durante a maioria do primeiro episódio, a temporada de estreia parece um pouco contida demais; ao contrário daquilo que muita vezes acontece com algumas séries, este Punisher pareceu-nos demasiado preocupado com os níveis de violência e por vezes fica bastante aquém do que esperaríamos. Ainda não é desta que os fãs da B.D. têm um Frank Castle ao nível do que se habituaram a conhecer.

No geral, a série foi quase tudo o que esperávamos que fosse, mas ficou também imenso espaço para melhorias numa quase certa segunda temporada. E se bem que no final fica óbvio quem poderá ser um dos próximos vilões que Castle deverá enfrentar, ficamos igualmente à espera que, lá para Novembro do próximo ano, os argumentistas tenham ganho uns truques para nos surpreender.

cerveja 08

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