A esperança desumana

Marvel’s Inhumans surge no auge da época dos super-heróis. Os filmes e séries com seres fantásticos sucedem-se em grande número e permitem-nos escolher de entre a vasta oferta. A nova aposta da ABC aumenta esses números. Mas será que veio para ficar?

A série foi anunciada com pompa e circunstância, com direito a estreia em cinemas Imax para dessa maneira permitir ao público desfrutar de toda a qualidade do trabalho realizado.  Mas já falaremos disso.

Para quem não conhece, Inhumans retrata a história de uma comunidade, exilada na Lua, cheia de seres com super poderes. Quando os seus membros chegam a uma certa idade passam pelo ritual que lhes vai conferir os seus poderes. A comunidade é encabeçada por Black Bolt (Anson Mount) e Medusa (Serinda Swan), rei e rainha dos Inhumans. Ele com uma voz tão poderosa que pode arrasar montanhas, ela com cabelo vivo capaz de levantar toneladas e ser usado como arma ou defesa. Juntos vão liderar um pequeno grupo que foge para a Terra e a partir daí tenta resistir ao golpe de estado ensaiado por Maximus (Iwan Rheon), irmão do rei, humano que ganhou apenas uma porção extremamente limitada de poderes, quase inexistente, ao passar pelo estranho ritual.

Temos que admitir que a fotografia em Inhumans é bastante trabalhada e a cena de introdução é disso prova. As cenas filmadas no Hawaii são realmente dignas do Imax, os verdes das ilhas saltam à vista, o azul do mar é espectacular e faz-nos querer viajar para lá e testemunhar na primeira pessoa aquilo que vemos no ecrã. Os efeitos visuais traduzem a espectacularidade que a produção pretende e funcionam bem como o cartão de visita da série… até certo ponto.

É um pouco estranho que desde o início a séries sinta a necessidade de nos atirar à cara a qualidade dos efeitos visuais e isso torna-se demasiado óbvio. Desde a cena de introdução, o abuso da câmara lenta não ajuda, assim como a escolha dos planos que a edição decide realçar. A intenção é boa mas a execução deixa muito a desejar. Mais ainda quando existem porções que jogam contra o objectivo de dar qualidade à imagem. Ainda antes do genérico damos conta de falhas gritantes quando a perseguição dos soldados humanos a Triton termina nas margens de uma enorme queda de água. O inhuman salta para o mar para se salvar e em apenas meio minuto damos conta de pormenores que não deviam existir numa série que se quer fazer passar pela ultima bolacha do pacote no que toca aos efeitos visuais. Se não, vejamos:

  • quando salta para o mar, não é preciso um olhar muito apurado para notar que o vulto de Triton é introduzido digitalmente; o vulto é desproporcionalmente grande e a velocidade e desajustado ao local de onde o inhuman salta;
  • a breve plano em que Triton atinge a água é péssimo; para além da velocidade ser desadequada, a mancha avermelhada que o herói deixa na água causa-nos a incerteza se o rapaz foi pulverizado com o impacto;
  • a luz que vemos no plano afastado da ilha não é a mesma que aquela que vemos quando o plano é aproximado aos soldados, deixando a sensação que as cenas foram filmadas em locais completamente diferentes ou não foi dada importância à continuidade e as cenas foram filmadas em alturas diferentes do dia;
  • apesar de percebermos a intenção, a transição do azul do mar para o vermelho do cabelo de Medusa não está bem conseguida e torna-se algo estranha.

A esta altura ficamos na dúvida se vale ou não a pena mencionar que por vezes Triton parece um alien saído dos episódios de Star Trek dos anos ’60. Exactamente antes do genérico iniciar, temos uma visão geral da cidadela da comunidade inhuman na Lua e do palácio da Família Real e foi impossível não traçar a comparação com a pirâmide de Mereen em Game of Thrones. E se a a pirâmide dominada pela Mãe de Dragões é uma estrutura de aspecto imponente e sólido, já os monarcas de Inhumans parecem viver num palácio que é uma mistura de plasticina e CGI do início do século.

Só agora chegamos ao genérico e, já que falamos nele, pareceu-nos um despachar preguiçoso da questão. Hoje em dia temos habitualmente dois tipos de genérico: um mais tradicional, de maior duração e que dá a oportunidade de nos deslumbrar desde o início e também estabelecer a identidade da série (e são tantos os bons exemplos que vamos guardá-los para um post só deles) e as versões minimalistas que, regra geral, têm apenas o título da série. Inhumans não conseguiu decidir qual das duas opções era a melhor e acabou por ser uma mistura infantil das duas. Para uma série tão empenhada em dar ênfase à imagem, é estranho detectar tantos pormenores descuidados tão cedo.

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