Estrelas de latão

Numa cidade remota do Canadá, a única lei que impera parece ser a do mais forte. Ou pelo menos a do mais apto. Tin Star é a mais recente aposta da Amazon na vertente policial e de acção.

Mal acabámos de falar em Tin Star e já estamos de regresso a ela. Numa altura em que o streaming ganha cada vez mais força e o binge watching é o novo estilo de ver TV, é cada vez mais difícil escolher de entre a variadíssima oferta. Confirmada que está a segunda temporada, avaliamos a primeira e tentamos perceber o que poderá reservar-nos a série no futuro.

Tim Roth dá vida a Jim Worth, chefe da polícia em Little Big Bear, uma pacata cidade no sopé das Montanhas Rochosas canadianas. Com um passado misterioso, o inglês vê a sua vida virada do avesso quando um estranho homem mascarado tenta assassiná-lo e mata o seu filho mais novo. A tragédia dá início a uma espiral de vingança, abuso de substâncias, violência e dramas familiares. Quando a pequena comunidade se vê obrigada a albergar os forasteiros que procuram trabalho na empresa petrolífera que se instalou nos arredores da cidade, a tranquilidade vai ser abalada e as coisas nunca mais vão ser iguais.

Tim Roth é um daqueles actores impossíveis de ignorar. Seja na comédia (4 Rooms), na acção (The Incredible Hulk) ou nos loucos filmes de Quentin Tarantino (Reservoir Dogs, Pulp Fiction), o actor parece querer atrair para si a atenção do espectador. Tin Star não é excepção e ainda bem. Roth desempenha o papel com uma facilidade que se torna frustrante para o comum dos mortais e proporciona a evolução da personagem dentro da série. É algo estranho que consideremos aquilo pelo que Jim Worth passa uma evolução já que, depois do assassinato do filho, o homem da lei opta por afogar as mágoas em whiskey de maneira cada vez mais assustadora para os que estão à sua volta. Começamos também a perceber que este estilo de vida faz parte do seu passado e é algo com que Worth já teve que lidar anteriormente. Mais inquietante se torna quando percebemos a pouca resistência que a personagem mostra a voltar aos antigos hábitos.

A série mantém um equilíbrio muito delicado quanto a Worth e o homem tão depressa está a encher alguém de porrada como a seguir tem um momento enternecedor com a família e isso funciona bem para Tin Star. E se bem que a esposa Angela (Genevieve O’Rilley) é uma personagem algo apagada, o mesmo não podemos dizer da filha Anna (Abigail Lawrie). O duo pai e filha acaba por ser o que mais injecta a série com o sentimento de família e sentimo-nos muitas vezes a torcer para que as coisas fique bem entre os dois.

A relação da miúda com Whitey (Oliver Coopersmith) vem perturbar esse equilíbrio quando começamos a perceber quem é a invulgar personagem. No meio dos muitos e normalmente violentos trabalhadores da refinaria, a afinidade artística do jovem parece destoar, se bem que o seu lado mais obscuro acaba por contrabalançá-la. A evolução da ligação entre os Ana e Whitey vem trazer novas dores de cabeça a Jim que não as habituais para um pai que tenta resguardar a filha das possíveis intenções do seu pretendente.

Juntamos à equação Elizabeth Bradshaw, desempenhada por Christina Hendricks, que nos pareceu bastante apagada durante a maior parte do tempo. Se bem que a Elizabeth começa a ter uma maior importância a partir do meio da temporada e a actriz a dar um ar da sua graça, não nos pareceu o suficiente para salvar a personagem ou que isso viesse a tempo de nos despertar por ela um maior interesse. O mesmo acontece com Christopher Heyerdahl, que interpreta Louis Gagnon. O actor parece destinado dar corpo aos mais estranhos vilões (Hell on Wheels) e a aptidão para o fazer parece inata. Já nos é complicado imaginar Heyerdahl no papel de “bom da fita”, mas apostamos que o faria com a mesma facilidade.

Notas de produção: o bom vilão que se preza aprecia ópera de qualidade, de preferência no escuro ou à meia-luz, com um Glenfiddich de 40 anos na mão, enquanto a) arquitecta o seu plano b) se prepara para pôr o plano previamente arquitectado em acção.

Tin Star começa de maneira lenta, quase monótona, mas depressa acelera o passo e só mesmo os mais impacientes vão desistir da série antes do terceiro episódio. É claro que há sempre aqueles que ao primeiro episódio querem já saber como termina a história e a série dividiu opiniões desde o princípio. A nós, os que ficaram, depois de nos convencer, facilmente vemos dois ou três episódios seguidos, mais ainda quando nos aproximamos do final da temporada e estranharíamos se assim não fosse. O que não estranhámos, no entanto, foi que Jim Worth nos fizesse constantemente recordar Lucas Hood, embora muito mais contido.

Ainda assim, foi apenas a primeira temporada e o fecho deixou-nos bastante curiosos quanto ao que aconteceu nos seus últimos minutos. Na segunda temporada certamente vamos ter personagens novas e esperamos ver as antigas mais exploradas. Na Tasca, prevemos que vamos certamente ver mais do passado misterioso de Jim Worth; quem sabe teremos uma melhor percepção de onde vem o treino aparentemente militar e a causa do descarrilar no passado.

Cá ficaremos a aguardar pacientemente a próxima temporada, já no próximo ano. A esta temporada damos

cervejómetro 6

 

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